O LIVRO E A CRIANÇA

Durante muitos anos a criança, que acompanhava a vida social do adulto, participava também de sua literatura. Só no início do século XVIII é que a criança passou a ser considerada com características próprias e começou a surgir uma literatura destinada a esta faixa etária.

Nos tempos bíblicos era muito difícil para a criança participar da leitura. Lemos, por exemplo, em II Reis 23.2 as seguintes palavras: “E o rei subiu à casa do Senhor, e com ele todos os homens de Judá, e todos os moradores de Jerusalém, e os sacerdotes, e os profetas, e todo o povo, desde o mais pequeno até ao maior: e leu aos ouvidos deles todas as palavras do livro do concerto, que se achou na casa do Senhor”. Aqui estavam juntos adultos e crianças ouvindo a lei de Deus registrada no livro encontrado no templo pelo sumo sacerdote Hilquias. Como ficariam inquietas nossas crianças hoje? O povo de Israel encontrava-se sem rumo. Agora estavam todos reunidos, crianças e adultos com o mesmo objetivo: renovar o pacto com Deus, pois haviam achado o livro que transforma!

No Novo Testamento vamos encontrar duas grandes mulheres Loide e Eunice as quais sabiamente souberam ensinar as sagradas letras ao neto e filho Timóteo, atitude que foi mencionada pelo apóstolo Paulo mais tarde, elogiando a fé não fingida daquelas senhoras, que passam para a história o exemplo de um lar que soube educar o filho contribuindo, certamente, para que se tornasse o amado filho do apóstolo.

O livro, além de contribuir para a formação do hábito da leitura, exerce outras funções como, a instrução, a educação, e a distração. A criança precisa entender que a leitura é o mais movimentado, o mais variado, o mais engraçado dos mundos, conforme afirma Amoroso Lima.

A leitura deve ser algo especial para a criança, não aquilo que se faz por castigo, penalidade por uma desobediência, mas algo prazeroso para sua alma. Fanny Abramovich afirmou: “Ler foi sempre maravilha, gostosura, necessidade primeira e básica, prazer insubstituível”.

A leitura traz para o indivíduo, pelo menos, quatro grandes benefícios: aperfeiçoamento do senso crítico, ampliação dos horizontes pessoais, melhor e mais consistente aproveitamento escolar e expansão da criatividade. Trazendo o assunto para o nosso ambiente evangélico, dentro do Programa de Educação Religiosa, a leitura é indispensável a todas as pessoas. É através da leitura que são formados conceitos e ideais, consolidam-se convicções importantes para a vida. O lar é a base para construção de hábitos e habilidades salutares para seus membros, principalmente para as crianças, mas a escola e a igreja também desempenham papel importante nesse processo.

Uma das funções da igreja é educar, isto deve começar desde a infância. A igreja lida com pessoas cuja dignidade deve ser além de respeitada, restaurada e preservada. O livro será uma ferramenta importante e absolutamente necessária para atender as necessidades do ser humano de forma integral. A igreja de Cristo precisa despertar para o valor do livro, da boa literatura. Talvez a falta de líderes para gerir esse processo, seja uma das causas do enfraquecimento doutrinário, do afastamento de adolescentes e jovens, da deficiência pedagógica de algumas de nossas EBDs e de outras atividades de nossas igrejas. Utilizar-se do livro para alcançar objetivos pedagógicos, morais, religiosos, lazer é válido, imprescindível, assim como usá-lo como forma de apreciar o belo. O livro será uma questão prioritária quando a literatura for considerada um valor para os educadores e para o próprio educando.

Para que o livro alcance o interesse das crianças é necessário, porém, que os que escrevem para esta faixa etária tenham conhecimento das características infantis, principalmente nas três fases mais importantes, conforme salienta Bárbara V. de Carvalho: fase egocêntrica, fase denominada racional ou de socialização, fase correspondente ao realismo que vai até os dezesseis anos. O conhecimento do público infantil trará uma produção de obras literárias mais adequadas para a infância.

Apesar da importância desse gênero literário, o uso do texto infantil em nossas igrejas ainda é insipiente. Esta é a conclusão a que se pode chegar após pesquisa realizada em nosso estado. Várias editoras têm investido muito nesta área, porém, os poucos livros que, nós batistas, temos publicado serão lidos num só momento e as crianças perderão o interesse em repetir as mesmas leituras, fato que Maria Antonieta Cunha considera um dos maiores responsáveis pelo desinteresse das crianças pela leitura. Acrescente-se a grande realidade que vivemos hoje com tantos atrativos eletrônicos que prendem a atenção de nossas crianças afastando-as de boas e salutares leituras.

Precisamos refletir profundamente neste assunto e dinamizar a produção do livro infantil, considerando o nosso público-alvo, a criança. O estímulo aos escritores não deverá faltar nesse programa. Todo fundamento cristão parte da revelação divina escrita num livro, as Sagradas Escrituras. “(...) e aponta-o num livro; para que fique escrito para o tempo por vir; para sempre e perpetuamente” (Is. 30.8b). “A aquisição de habilidades, inclusive a de ler, fica destituída de valor quando o que se aprendeu a ler não acrescenta nada de importante à nossa vida” (Bettelheim).

Finalmente, além de dinamizar a produção literária, poderíamos estimular também as nossas igrejas a organizarem uma biblioteca com vistas ao crescimento de sua comunidade, sobretudo de nossas crianças, bem como daqueles que estão ao nosso redor e carecem ser alcançados pelo evangelho.

Iracy de Araújo Leite - Colaboradora de OJB

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