FACEBOOK OU FACE’S BOOK

Esse negócio de facebook ilude as pessoas acerca da amizade. Faz com que acreditem que têm, de fato, centenas e até milhares de amigos. Não têm. Também faz com que creiam serem amigas de centenas e até milhares de pessoas. Não são.
Ainda, o facebook engana as pessoas, fazendo-as pressupor que, todos aqueles que pediram para fazer parte de sua rede de amigos, verdadeiramente se alegram com seu sorriso e entristecem com sua dor. Isso não acontece.
Além disso faz com que pensem que, precisando, podem contar com uma multidão de pessoas, que não medirão esforços para lhes ajudar. Não podem.
Como se não bastasse, o facebook mente para as pessoas, induzindo-as a confiar que os elogios, congratulações e avaliações positivas que tão bem lustram-lhes o ego, são sempre sinceros e verdadeiros. Nem sempre são.
Mas, espere! Não precipite-se em julgar-me. Eu não estou chamando todos que estão no facebook de hipócritas. Não é isso! Também não estou apenas criticando e generalizadamente julgando que tudo o que está lá é ruim. Eu sei que há muita coisa boa e até de utilidade nas redes sociais em geral e no facebook em particular.

No facebook, todos jogam de acordo com as regras. Elogiar, celebrar e manifestar-se a tudo que diz respeito aos amigos do seu perfil ou página é questão de sobrevivência na rede global. E este nem é o principal problema. A crise maior, e também a crítica que precisamos fazer, o tempo todo, é que esse facebook veio cristalizar as relações superficiais e facilitar as artificiais. Mesmo admitindo que há muito de sinceridade, lealdade e verdade rolando nos perfis e nas páginas...
Interessante que, em Inglês, face pode ser substantivo (rosto, face..) ou verbo (enfrentar, encarar). Desta forma o facebook não é um face’s book. Não é um espaço onde se encontra ajuda mútua para os enfrentamentos da vida, ou suporte para se encarar as barras pesadas, lutas e toda diversidade de problemas inerentes à existência humana.
Não é um espaço para o coração. É só rosto… Somente “face”. Nada profundo, nada íntimo, nada além do que pode ser maquiado e mostrado, preferencialmente de longe. E nós sabemos que, como diz o adágio: “quem vê cara, não vê coração”.
É verdade: Estão todos lá. Mas tudo o que fazem, quando fazem, é curtir, comentar e compartilhar. Nada de envolver-se, doar-se ou comprometer-se. Qualquer insistência, é exclusão de contato na certa.
Assim, é oportuno, até para emprestar beleza literária à crítica da cultura contemporânea, que nos lembremos de Raimundo Correia (1859-1911), pois precisamos enxergar o mal secretamente escondido, e de difícil vislumbre, no facebook:

“MAL SECRETO
Se a cólera que espuma, a dor que mora
N’alma, e destrói cada ilusão que nasce,
Tudo o que punge, tudo o que devora
O coração, no rosto se estampasse;
Se pudesse, o espírito que chora,
Ver através da máscara da face,
Quanta gente, talvez, que inveja agora
Nos causa, então piedade nos causasse!
Quanta gente que ri, talvez, consigo
Guarda um atroz, recôndito inimigo
Como invisível chaga cancerosa!
Quanta gente que ri, talvez existe,
Cuja aventura única consiste
Em parecer aos outros venturosa!”

Mas talvez seja possível salvar o facebook da superficialidade efêmera. Talvez seja possível fazer nascer um faces’s book no facebook. Talvez…

Lécio Dornas é o Coordenador do Ministério Brasileiro da American Bible Society e 
o pastor da Primeira Igreja Batista Brasileira de Orlando, FL

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